Sento-me
Sento-me, a olhar o mar.
Estamos em janeiro, como naquele ano
Em que daqui o observava, e nas suas
Ondas deixava ir tudo o que um dia senti
Por ti. Todas as mágoas e ressentimentos
Se foram desfazendo em espuma, no rebentar
Das ondas e afogaram-se. Ficou o amor, sim…,
O amor por mim vivido e em ti projetado, confuso,
Que se julgava tua pertença. Julgava-se tua
Pertença mas não o era, nem nunca o foi. Era e é meu!
Ame quem amar, sempre será exclusivamente meu.
O amor vive-se cá dentro e não é refém de ninguém.
Demorou perceber isso, demorou… muito. Demorou
Até aquele momento em que junto ao mar o passei
Por água, todo o lixo se foi, tudo o que não valia a pena
As águas levaram, tudo o que te ligava a ele se dissipou.
Recolhi-o, límpido. Hoje, somente, sobrevive a memória
Da minha entrega a alguém que o não merecia. Hoje
Sobrevivo, feliz por amar-me. Hoje observo o mar com
A ternura do meu amor. Sento-me, a olhar o amor.
Contoselendas