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Contos, Lendas e Poesia

Contos, Lendas e Poesia

30
Set06

Poema Pouco Original do Medo

contoselendas

 

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

 

Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes 
ouvidos não só nas paredes 
mas também no chão 
no teto
no murmúrio dos esgotos 
e talvez até (cautela!) 
ouvidos nos teus ouvidos

 

O medo vai ter tudo 
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos 
heróis
(o medo vai ter heróis!) 
costureiras reais e irreais 
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe) 
a tua voz talvez 
talvez a minha 
com a certeza a deles

 

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

 

Ah o medo vai ter tudo 
tudo
(Penso no que o medo vai ter 
e tenho medo 
que é justamente 
o que o medo quer)

 

O medo vai ter tudo 
quase tudo 
e cada um por seu caminho 
havemos todos de chegar 
quase todos 
a ratos

 

Sim
a ratos

 

Alexandre O'Neill

29
Set06

Palavra puxa palavra

contoselendas

Palavra puxa palavra

Lá começa

A guerra

A guerra das palavras

A guerra das armas

 

Palavras que nos unem

Que nos desunem

Palavras que …

Poderiam ser abençoadas

Não fosse o mau uso

Que lhes damos.

 

Carlos Alberto

29
Set06

Creio nos anjos que andam pelo mundo

contoselendas

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.

 

Natália Correia
27
Set06

...

contoselendas

A chuva regressou pela boca da noite
Da sua grande caminhada
Qual virgem prostituída
Lançou-se desesperada
Nos braços famintos
Das arvores ressequidas!

Nos braços famintos das arvores
Que eram os braços famintos dos homens...

Derramou-se sobre as chagas da terra
E pingou das frestas
Do chapéu roto dos desalmados casebres das ilhas
E escorreu do dorso descarnado dos montes!

Desceu pela noite a serenar
A louca, a vagabunda, a pérfida estrela do céu
Ate que ao olhar brando e calmo da manha
Num aceno farto de promessas
Ressurgiu a terra sarada
Ressumando a fartura e a vida!

Nos braços das arvores...
nos braços dos homens...

 

Onesimo Silveira – Poeta Cabo-verdiano

26
Set06

A Criança Que Ri na Rua

contoselendas

A CRIANÇA que ri na rua, 
A música que vem no acaso, 
A tela absurda, a estátua nua,
A bondade que não tem prazo –

 

Tudo  isso excede este rigor
Que o raciocínio dá a tudo, 
E tem qualquer cousa de amor, 
Ainda que o amor seja mudo

 

Fernando Pessoa
26
Set06

...

contoselendas

fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre

sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.

eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber

que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.

o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte

de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.

o amor é ter medo e querer morrer.

 

José Luís Peixoto

 

25
Set06

Passeio de Barco

contoselendas

    Nasrudim às vezes levava as pessoas para viajar em seu barco. Um dia, um pedagogo exigente contratou-o para transportá-lo ao outro lado de um rio muito largo. Assim que se lançaram à água, o sábio perguntou-lhe se faria mau tempo.
    - Não me pergunte nada sobre isto – disse Nasrudim.
    - Você nunca estudou gramática ?
    - Não.
    - Neste caso, metade de sua vida foi desperdiçada.
    O Mulla não disse nada. Logo desabou uma terrível tempestade. O pequeno e desorientado barco de Mulla começou a encher de água. Ele se inclinou para o companheiro.
    - Alguma vez você aprendeu a nadar?
    - Não – respondeu o pedante.
    -Neste caso, caro mestre, toda sua vida foi desperdiçada, pois estamos afundando.  

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