Esperava a camioneta para ir trabalhar. Estava sentado na escadaria do Prédio onde habitualmente espero transporte para o trabalho, quando aquele homem apareceu. Já não era jovem. Pareceu-me já o ter visto algures, não sabendo onde. Ele reconheceu-me logo e apresentou-se como meu ex-vizinho – recordei-me logo dele – começando a falar da sua vida após ter “abandonado” a casa onde vivia perto da minha.
Falava com orgulho de tudo que tinha construído.
Falava como se fosse para si, naquele momento, importante que eu o soubesse tudo que tinha construído.
Orgulhosamente falava…até que chegou à Quinta que tinha em Vila Real de Trás-os-Montes. Dizia ser grande, num sito calmo, mas sua filha não lhe dava valor. Só seu Genro.
Começou a viver a sua Amargura. Era-lhe importante que sua filha gostasse daquela Quinta, de tudo que tinha construído aquilo era o mais importante. Não lhe bastava o Genro gostar.
Eu escutava-o com atenção.
Vivia a tormenta de tudo o que construiu “não ter servido de nada”, pois sua única filha não dava valor, ao que de material mais amava, a sua quinta em Vila Real.
Disse-lhe: não podemos viver pensando que os outros vão reconhecer nossas obras.
Falei do meu gosto pela leitura e de como não espero que os outros gostem de minha estante e meus livros. Quando morrer o seu destino já não é meu.
Entretanto chegou a camioneta e tive de ir….
Sei que não esgotei sua Amargura mas espero que a tenha minimizado.
Contoselendas